Pesquisadores do Canadá e da Noruega investigaram o genoma das baleias-azuis do Atlântico Norte e descobriram que uma parcela significativa do DNA desses mamíferos é proveniente das baleias-fin, seus vizinhos no oceano (JOSSEY, 2024).
O estudo, publicado recentemente, sugere que cerca de 3,5% do genoma das baleias-azuis é composto por material genético das baleias-fin.
Essa descoberta ajuda a compreender um fenômeno pouco compreendido até então: a introgressão, caracterizada pela transferência de genes entre espécies diferentes através do acasalamento.
Surpreendentemente, todas as amostras de baleias azuis analisadas no estudo apresentaram algum grau de DNA de baleia-fin em seu genoma, indicando uma ocorrência generalizada desse processo.
O aspecto mais intrigante dessa descoberta é o fato de que a maioria dos híbridos resultantes desse acasalamento interespécies tende a ser fértil.
Enquanto muitos animais híbridos são inférteis – como a mula, resultado do cruzamento entre burro e cavalo – as baleias-azuis e as baleias-fin parecem produzir descendentes capazes de se reproduzir.
Isso sugere algumas hipóteses sobre a evolução e a biologia dessas espécies de cetáceos.
Os cientistas especulam que a similaridade genética entre as baleias-azuis e baleias-fin pode ser um fator importante na viabilidade reprodutiva dos híbridos.
Ambas as espécies compartilham 44 pares de cromossomos e apresentam padrões cromossômicos semelhantes, o que pode facilitar o processo de reprodução entre elas.
Outro detalhe fascinante dessa descoberta é o fato de que, enquanto as baleias-azuis têm uma parcela significativa do DNA das baleias-fin, o oposto não parece ser verdadeiro.
Ou seja, as baleias-fin não parecem estar herdando o DNA das baleias-azuis da mesma forma.
Isso levanta questões sobre por que as baleias-azuis estão mais dispostas a se envolver em tal comportamento e quais são as implicações para a diversidade genética e a conservação dessas espécies.
Essa descoberta também tem implicações importantes para a conservação das baleias-azuis, uma espécie que enfrenta ameaças significativas devido à atividade humana, como a caça e as mudanças climáticas.
Embora a introgressão possa aumentar a diversidade genética das populações de baleias-azuis, também levanta preocupações sobre a perda de características genéticas exclusivas da espécie.
No entanto, é importante ressaltar que ainda há muito a ser aprendido sobre esse fenômeno complexo.
Estudos adicionais são necessários para entender melhor os padrões de introgressão entre as baleias-azuis e as baleias-fin, bem como suas implicações para a saúde e a viabilidade a longo prazo dessas populações.
Em última análise, essa descoberta nos lembra da incrível diversidade e complexidade da vida marinha e da necessidade contínua de proteger e preservar as espécies que habitam os oceanos do nosso planeta.
Ao desvendar os segredos do acasalamento das baleias-azuis e baleias-fin, os cientistas nos fornecem insights valiosos sobre a evolução e a adaptação desses magníficos animais em um mundo em constante mudança.
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Referências
JOSSEY, Sushma et al. Population structure and history of North Atlantic Blue whales (Balaenoptera musculus musculus) inferred from whole genome sequence analysis. Conservation Genetics, p. 1-15, 2024. Disponível em: <link>. Acesso em: 17 fev 2024.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Descoberta surpreendente revela que baleias-azuis cruzam com outra espécie. Ciência Mundo, fev 2024. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.