As galáxias mais brilhantes do Universo, conhecidas como blazares, há muito intrigam os astrônomos com suas flutuações de intensidade luminosa.
Recentemente, uma pesquisa liderada pela astrônoma Silke Britzen do Instituto Max Planck de Radioastronomia, na Alemanha, lançou luz sobre o mistério dessas galáxias, sugerindo que a explicação para suas variações de brilho pode estar relacionada a pares de buracos negros supermassivos se orbitando (BRITZEN, 2023).
As galáxias blazar são um subconjunto especial dos quasares, que são galáxias que possuem buracos negros supermassivos extremamente ativos.
O que torna os blazares tão únicos é sua orientação peculiar em relação à Terra.
À medida que o material é atraído para o buraco negro em seu interior, parte dele cria jatos de plasma que são expelidos pelos polos da galáxia.
Esses jatos de plasma são direcionados quase que diretamente para nós, na Terra, tornando os blazares, os objetos mais brilhantes do Universo observável, do nosso ponto de vista.
No entanto, o que tem intrigado os astrônomos há anos é a variabilidade inexplicável no brilho dos blazares.
Esse fenômeno já foi interpretado como aleatório, sugerindo que a flutuação era resultado da injeção de material nos jatos, causando flashes de luz aparentes.
No entanto, a pesquisa liderada por Britzen e sua equipe lança uma nova perspectiva sobre essa variabilidade.
Os astrônomos estudaram 12 galáxias blazar diferentes e descobriram que a melhor explicação para suas flutuações de brilho é a presença de um par de buracos negros supermassivos se orbitando.
Isso significa que essas galáxias podem abrigar dois buracos negros colossais em uma dança gravitacional cósmica, com suas enormes massas afetando os jatos de plasma de maneira significativa.
Para entender esse fenômeno, é preciso imaginar esses buracos negros supermassivos como estrelas em uma “dança cósmica”.
À medida que eles orbitam um ao outro, suas influências gravitacionais fazem com que seus eixos de rotação oscilem como um pião, num fenômeno conhecido como precessão.
Isso, por sua vez, faz com que os jatos em si se curvem e oscilem, resultando nas flutuações de brilho observadas.
Embora o fenômeno da precessão não seja uma novidade na astronomia, a sua aplicação aos blazares é uma descoberta notável.
Esses resultados podem fornecer uma compreensão mais profunda de como os buracos negros supermassivos crescem até atingir tamanhos gigantescos, com massas que variam de milhões a bilhões de vezes a do Sol.
Além disso, essa descoberta pode lançar luz sobre a frequência das fusões de galáxias ao longo da história do Universo.
Se muitos blazares hospedam pares de buracos negros supermassivos, isso pode indicar que as fusões galácticas são eventos mais comuns do que se pensava anteriormente.
No entanto, vale ressaltar que a precessão não é a única explicação para as flutuações de brilho dos blazares.
A variação na quantidade e tipo de material injetado no núcleo ainda continua sendo a hipótese mais plausível para essas alterações.
Embora a observação direta desses binários de buracos negros supermassivos ainda seja um desafio devido à falta de instrumentação com resolução suficiente, o monitoramento contínuo da precessão, bem como a observação a longo prazo de outros blazares, prometem continuar revelando informações valiosas sobre essas intrigantes galáxias.
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Referências
BRITZEN, Silke et al. Precession-induced Variability in AGN Jets and OJ 287. The Astrophysical Journal, v. 951, n. 2, p. 106, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em:11 set 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Buracos negros gêmeos podem estar alimentando os blazares. Ciência Mundo, set 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.