As baleias da Groenlândia — também conhecidas como baleias-boreal ou baleias-franca — têm chamado a atenção dos cientistas devido à sua incrível longevidade.
Esses gigantes mamíferos marinhos podem viver por mais de 200 anos, e recentes descobertas revelaram um “superpoder” que pode explicar esse feito impressionante: a habilidade de reparar o DNA danificado.
Um estudo publicado em maio de 2023 no bioRxiv.org revelou que as células das baleias-da-groenlândia são extremamente eficientes na reparação de danos no DNA (FIRSANOV, 2023).
Essa capacidade de reparo pode ser um fator-chave na prevenção de mutações genéticas que poderiam levar ao desenvolvimento de câncer.
A resistência ao câncer em animais de grande porte tem sido investigada por cientistas há algum tempo, que chamam esse fenômeno de paradoxo de Peto.
Esse paradoxo questiona por que animais maiores não têm taxas de câncer mais altas, considerando o maior número de células e, consequentemente, um maior risco de mutações.
Alguns estudos revelaram estratégias biológicas adotadas por animais grandes, como os elefantes, que também são resistentes ao câncer.
Os elefantes possuem cópias extras de um gene chamado TP53, que atua na prevenção de tumores.
Além disso, eles têm outra proteína que ajuda a lidar com danos no DNA, eliminando as células afetadas.
No entanto, descobertas recentes sugerem que as baleias da Groenlândia adotam uma abordagem diferente, tendo uma capacidade de reparo de DNA ainda mais eficiente e precisa.
Os cientistas identificaram duas proteínas presentes nas células das baleias da Groenlândia, chamadas CIRBP e RPA2, que desempenham um papel fundamental no mecanismo de reparo do DNA desses animais.
Os experimentos realizados em laboratório demonstraram que as células das baleias da Groenlândia são capazes de reparar com sucesso quebras na dupla fita do DNA, um tipo de dano que pode ser especialmente perigoso.
Em comparação com células de outros mamíferos, as células das baleias mostraram uma capacidade muito maior de restaurar o DNA danificado, resultando em um reparo mais eficiente.
Essas descobertas são extremamente empolgantes para a comunidade científica, pois têm implicações significativas para a compreensão e o tratamento do câncer.
Os pesquisadores ressaltam a importância de estudar animais com baixas taxas de câncer, como as baleias da Groenlândia, para obter insights sobre a prevenção e o tratamento dessa doença devastadora.
As estratégias de reparo de DNA observadas nas baleias da Groenlândia poderiam ser adaptadas para tratamentos em pacientes humanos com câncer no futuro.
A compreensão das estratégias naturais de resistência ao câncer em animais pode abrir novos caminhos na pesquisa médica e na busca por terapias inovadoras.
Embora ainda haja muito a aprender sobre como as baleias da Groenlândia conseguem reparar o DNA de maneira tão eficiente, essa descoberta nos leva a refletir sobre o potencial das soluções para desafios médicos que podem estar escondidas na natureza.
Como afirmaram os pesquisadores, “talvez já tenhamos a solução para a medicina do câncer disponível na natureza, só precisamos encontrá-la”.
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Referências
FIRSANOV, Denis et al. DNA repair and anti-cancer mechanisms in the longest-living mammal: the bowhead whale. bioRxiv, p. 2023.05. 07.539748, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 14 jun 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Baleias-da-groenlândia têm o “superpoder” de combater o câncer reparando seu DNA. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.