O terremoto mais intenso registrado desde a invenção do sismógrafo ocorreu em 1960 no sul do Chile, e alcançou 9,5 de magnitude na escala Richter. O evento causou estragos até mesmo no Havaí, que registrou ondas de 10 metros, mesmo estando a 10.000 km de distância. Estima-se que 6.000 pessoas tenham morrido no Chile na ocasião, apesar de o epicentro ter ocorrido em uma área relativamente despovoada.
O Chile já passou por muitos outros grandes terremotos, resultantes do movimento da placa tectônica sul-americana — que abriga o continente da América do Sul e a parte oeste do Oceano Atlântico Sul — sobre a placa de Nazca — situada a oeste da América do Sul, ao lado dos Andes.
Embora os registros históricos de terremotos sejam esperados para a região, um deles, ocorrido há 3.800 anos, teve intensidade bem acima da média. As evidências desse evento ainda podem ser encontradas por até mil quilômetros da costa chilena. Os sedimentos marinhos são encontrados tão acima do nível do mar, que os pesquisadores estimam que o terremoto tenha superado a magnitude 10 na escala Richter.
Em um trabalho recente, uma equipe de pesquisadores, coordenados pelo professor James Goff — da Universidade de Southampton, no Reino Unido — catalogaram várias evidências desse mega fenômeno histórico (SALAZAR, 2022).
O Atacama é um dos lugares mais inadequados à vida humana na Terra, com áreas que costumam não receber chuvas por muitos anos. No entanto, as águas que cercam o local, a corrente de Humboldt, estão entre as mais abundantes em alimentos da Terra. Isso possibilitou que, por pelo menos 12.000 anos, os humanos sobrevivessem lá, com uma dieta rica em alimentos marinhos.
Por mil anos desse tempo, no entanto, algo mudou. Estruturas de pedra e cemitérios desapareceram inexplicavelmente da costa do Atacama, e começaram a surgir a 40 quilômetros no interior. Este, certamente, foi um momento difícil para os nativos, que, para manter sua dieta baseada na generosidade do mar e evitar sua ira imprevisível, tinham que fazer longas caminhadas.
Segundo Goff, as pessoas simplesmente largaram tudo que tinham para trás, com medo de que o evento se repetisse. A equipe de arqueólogos encontrou evidências que indicam uma enorme reviravolta social, à medida que as comunidades se deslocavam para o interior, além do alcance dos tsunamis. As pessoas só começaram a voltar para o litoral 1.000 anos após o evento, um espaço de tempo incrível, considerando que elas dependiam do mar para se alimentar.
Para os arqueólogos, a notícia do desastre foi passada de geração em geração através de histórias, uma forma que os povos antigos tinham de transmitir conhecimento antes da escrita. Há evidências, por exemplo, de que os aborígenes australianos preservavam as memórias dos desastres naturais através de histórias por até milhares de anos. Logo, o fato de um tsunami ter sobrevivido na memória coletiva do Atacama por mil anos não é uma novidade para os arqueólogos. De qualquer forma, as mensagens, eram tão poderosas que as pessoas evitaram viver perto de sua principal fonte de alimento, por muito tempo.
Segundo Goff, o evento pode ter tido consequências globais, já que, durante o estudo, foram descobertos pedregulhos na ilha de Chatham, na Nova Zelândia, que teriam chegado até ali, na mesma época, trazidos por um tsunami. A julgar por suas localizações, a equipe de pesquisadores concluiu que as ondas que os arrastaram até lá podem ter se originado no norte do Chile.
Os pesquisadores alertam que se o evento acontecesse na atualidade teria consequências catastróficas, já que o tsunami que ocorreu há 3.800 atingiu ilhas inabitadas, que hoje estão densamente povoadas e despreparadas para um evento dessa magnitude.
Referências
SALAZAR, Diego et al. Did a 3800-year-old M w~ 9.5 earthquake trigger major social disruption in the Atacama Desert?. Science Advances, v. 8, n. 14, p. eabm2996, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 set. 2022.
Notícias
People Avoided Chile’s Coast For 1,000 Years After Ancient Megatsunami. IFLScience, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Arqueólogos descobrem que as pessoas evitaram a costa do Chile por 1.000 anos após um tsunami. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .