A história da paleontologia muitas vezes atribuiu aos cavalheiros britânicos do século XVII ao XIX a descoberta dos primeiros ossos de dinossauros.
Robert Plot, um estudioso inglês de história natural, é creditado por descrever o primeiro osso de dinossauro em seu livro de 1676, “A História Natural de Oxfordshire”.
No entanto, um estudo recente revela que os africanos podem ter realizado essa façanha muito antes do termo “paleontologia’” ser cunhado (BENOIT, 2024).
Esta pesquisa, conduzida por uma equipe de cientistas que estudam fósseis na África do Sul, revela evidências de que os primeiros ossos de dinossauros podem ter sido descobertos na África até 500 anos antes das descobertas britânicas.
Os pesquisadores explicam que o continente africano, berço do Homo sapiens há pelo menos 300.000 anos, sempre teve um papel significativo na história da paleontologia.
A diversidade de afloramentos rochosos, como os leitos de Kem Kem no Marrocos e o vale do Karoo no sul da África, oferece uma riqueza de fósseis acessíveis desde os tempos mais remotos.
Ao explorar a literatura arqueológica, histórica e paleontológica, a equipe descobriu que o interesse em fósseis na África remonta aos primórdios da presença humana no continente.
Não é surpreendente que, dadas essas circunstâncias, as primeiras descobertas de fósseis fossem praticamente inevitáveis nesta região.
Os pesquisadores descobriram que as comunidades locais não apenas conheciam esses fósseis, mas também desempenharam um papel ativo em suas descobertas.
Um dos destaques é o sítio arqueológico de Bolahla em Lesotho, onde evidências sugerem ocupação humana de 1100 a 1700 d.C.
Neste local, um osso de dedo fossilizado de Massospondylus, um dinossauro de pescoço longo, foi descoberto.
A ausência de esqueletos fossilizados nas paredes da caverna indica que esse fóssil foi transportado para o local, possivelmente por alguém nos séculos passados.
Talvez essa pessoa tenha feito isso por mera curiosidade, ou para transformá-lo em um pingente ou brinquedo, ou para usá-lo em rituais de cura tradicionais.
Investigando os registros arqueológicos indígenas, os pesquisadores também descobriram que muitos dos primeiros fósseis de dinossauros, inicialmente creditados aos cientistas, foram, na verdade, trazidos à atenção destes por guias locais.
Exemplos incluem os índios Tuaregs no Níger, responsáveis pela descoberta do Jobaria, e os Mwera na Tanzânia, que identificaram o Giraffatitan.
Isso sugere uma longa tradição de conhecimento e interação com fósseis por parte das comunidades africanas.
Além disso, os pesquisadores descobriram que, bem antes dos europeus, fósseis de dinossauros já eram incorporados à mitologia e à cultura africanas.
Em Lesoto, por exemplo, fósseis lavados pela chuva foram identificados como pertencentes ao “Kholumolumo“, um monstro semelhante a um dragão que devora pessoas.
Este fenômeno não é exclusivo da África, com povos em outros continentes atribuindo significados mitológicos a fósseis muito antes do advento da ciência moderna.
Enquanto algumas regiões, como os leitos de Kem Kem no Marrocos, ainda não apresentaram evidências robustas de conhecimento indígena, a pesquisa em andamento destaca a necessidade de compreender completamente a relação entre as comunidades locais e os fósseis.
Para os pesquisadores sul-africanos, este trabalho oferece uma oportunidade única de reconhecer e valorizar o papel das comunidades locais, inspirando uma geração de paleocientistas africanos a continuar explorando os mistérios enterrados em sua própria terra.
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Referências
BENOIT, Julien et al. Indigenous knowledge of palaeontology in Africa. Geological Society, London, Special Publications, v. 543, n. 1, p. SP543-2022-236, 2024. Disponível em: <link>. Acesso em: 5 jan 2024.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Africanos descobriram fósseis de dinossauros séculos antes dos britânicos. Ciência Mundo, jan 2024. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.