A Via Láctea está produzindo muito mais estrelas do que se pensava anteriormente, de acordo com um novo estudo que estima a taxa de formação estelar na nossa galáxia (SIEGERT, 2023).
A partir de raios gama do isótopo radioativo de alumínio-26, que surge principalmente de estrelas massivas, os pesquisadores determinaram que a Via Láctea converte de 4 a 8 massas solares de gás e poeira interestelares em novas estrelas a cada ano.
Essa taxa é duas a quatro vezes maior do que a estimativa convencional e corresponde a uma taxa de natalidade estelar anual de cerca de 10 a 20 estrelas.
Com essa taxa de formação de estrelas, nossa galáxia gera de 10 milhões a 20 milhões de novas estrelas a cada milhão de anos – o que é suficiente para preencher aproximadamente 10.000 aglomerados estelares como o belo aglomerado das Plêiades, na constelação de Touro.
Em contraste, muitas galáxias, incluindo a maioria das que orbitam a Via Láctea, não produzem novas estrelas.
Segundo Thomas Siegert, astrofísico da Universidade de Würzburg, na Alemanha, a taxa de formação estelar é muito importante para entender a evolução das galáxias.
Quanto mais estrelas uma galáxia cria, mais rapidamente ela se enriquece com oxigênio, ferro e outros elementos que as estrelas produzem.
Esses elementos, por sua vez, alteram as nuvens de gás que formam as estrelas, podendo mudar o número relativo de estrelas grandes e pequenas que as nuvens produzem.
Os pesquisadores estudaram a intensidade e distribuição espacial da emissão de alumínio-26 observada em nossa galáxia.
Durante sua vida, uma estrela massiva cria esse isótopo, que é arremessado para o espaço por meio de um forte vento estelar.
Se a estrela explodir quando morrer, a supernova resultante forja ainda mais alumínio-26. O isótopo, com meia-vida de 700.000 anos, se decompõe e emite raios gama.
Ao contrário da luz visível, que é bloqueada pela poeira que envolve as estrelas mais jovens, os raios gama atravessam a poeira.
“Estamos olhando através de toda a galáxia”, diz Siegert. “Não estamos usando raios X, mas sim raios gama”.
Quanto mais estrelas a Via Láctea gera, mais raios gama são emitidos.
De acordo com as observações, a melhor correspondência é uma taxa de formação de estrelas de 4 a 8 massas solares por ano. Essa taxa é muito maior do que a estimativa padrão para a Via Láctea de cerca de 2 massas solares por ano.
Pavel Kroupa, astrônomo da Universidade de Bonn, na Alemanha, que não participou do estudo, afirmou que a taxa revisada é muito realista e elogiou o trabalho detalhado dos pesquisadores na modelagem do processo de formação de estrelas. Segundo ele, essa é uma grande evolução para o assunto, e os pesquisadores estão na direção correta.
No entanto, Thomas Siegert, um dos autores do estudo, destaca que ainda há muitas incertezas na determinação da taxa de formação estelar da Via Láctea.
Uma das principais dificuldades é estimar a distância percorrida pelos raios gama antes de chegar até nós.
Caso a emissão observada ocorra em uma região próxima da Terra, a quantidade de alumínio-26 presente na galáxia seria menor do que a calculada, o que significaria uma taxa de formação estelar mais baixa do que a estimada no estudo.
Ainda assim, os resultados indicam que a Via Láctea é uma das galáxias mais prolíficas em relação à formação de estrelas.
Vídeos
Referências
SIEGERT, Thomas et al. Galactic Population Synthesis of Radioactive Nucleosynthesis Ejecta. arXiv preprint arXiv:2301.10192, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 maio 2023.
Notícias
The Milky Way may be spawning many more stars than astronomers had thought. Science News, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. A Via Láctea está produzindo muito mais estrelas do que se pensava. Ciência Mundo, fev 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.