A vida em nosso planeta provavelmente surgiu de uma reação físico-química, que produziu as primeiras entidades, que conseguiram se diversificar e prosperar há bilhões de anos. Não sabemos, exatamente, quando isso aconteceu, mas os estudos realizados até agora sugerem que os primeiros ensaios da vida teriam começado há 3,5 bilhões de anos, quando a crosta terrestre começou a esfriar.
Em uma pesquisa recente, no entanto, uma equipe de pesquisadores liderada pelo professor Dominic Papineau — da University College London (UCL) — apresentou evidências de vida microbiana em um pequeno pedaço de rocha encontrado no Quebec, Canadá, que pode ter entre 3,75 e 4,28 bilhões de anos (PAPINEAU, 2022).
A rocha, encontrada em 2017, intrigou os pesquisadores que começaram a especular sobre a possibilidade das estruturas que haviam nela — minúsculos filamentos, botões e tubos — terem sido realizadas por bactérias primitivas. Isso retrocederia a data dos primeiros sinais de vida na Terra em pelo menos 300 milhões de anos, mas era necessário comprovar que essas estruturas eram realmente de origem biológica.
Para a surpresa de todos, após analisar mais profundamente a rocha com um tomógrafo, os pesquisadores descobriram uma estrutura ainda maior e mais complexa do que a identificada inicialmente. O interior da rocha apresenta uma estrutura semelhante a uma árvore com vários ramos (ou tubos), além de centenas de semi-esferas ao lado dos tubos.
Segundo Papineau, isso significa que a vida pode ter surgido apenas 300 milhões de anos após a formação da Terra. Em termos geológicos, isso é muito rápido, equivalente a uma volta do Sistema Solar em torno da Via Láctea.
A maior preocupação dos pesquisadores é a possibilidade dessas estruturas terem se formado por reações químicas não relacionadas a seres vivos. Papineau admite que os microtubos menores podem ser o resultado de reações abióticas,. No entanto, a estrutura maior, semelhante a uma árvore, é, certamente biológica, já que não existe nada na literatura que aponte para algo similar, criado apenas por reações químicas.
Além das estruturas, os pesquisadores identificaram substâncias químicas mineralizadas na rocha que podem ter sido subprodutos de diferentes tipos de processos metabólicos. Essas assinaturas químicas são consistentes com os processos de extração de energia nas bactérias que envolveriam ferro e enxofre, havendo, inclusive, indícios de uma versão primitiva de fotossíntese.
Para analisar a rocha, os pesquisadores efetuaram várias observações ópticas através de microscópios Raman — que usam dispersão de luz para determinar estruturas químicas — e recriaram digitalmente as estruturas com um supercomputador que processou os modelos em alta resolução.
O pedaço de rocha em questão foi coletado por Papineau em 2017 do Cinturão Supracrustal Nuvvuagittuq de Quebec (NSB), local que um dia já foi mar. O NSB contém algumas das rochas sedimentares mais antigas conhecidas na Terra. A rocha também foi analisada quanto aos elementos que a compõem sendo observados os mesmos níveis de elementos de rochas vulcânicas antigas daquela época.
Antes dessa rocha, a evidência fóssil de vida mais antiga que se conhecia era de um exemplar encontrado na Austrália, que remonta a 3,46 bilhões de anos. No entanto, existe uma discussão semelhante sobre esses fósseis serem realmente de origem biológica.
Segundo Papineau, a implicação mais excitante dessa descoberta é mostrar o potencial da vida em se espalhar pelo universo. Se a vida foi capaz de acontecer nas duras condições da Terra primitiva, então ela pode ser mais comum no cosmos do que pensamos.
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Referências
PAPINEAU, D. et al. Metabolically diverse primordial microbial communities in Earth’s oldest seafloor-hydrothermal jasper. Science Advances, v. 8, n. 15, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 abr. 2022.
Notícias
Complex Life May Have Started on Earth Much Earlier Than We Thought. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 abr. 2022.
Diverse life forms may have evolved earlier than previously thought. UCL, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 abr. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. A vida na Terra pode ter iniciado bem antes que imaginávamos. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .