A pouco tempo, o calendário maia ficou famoso após se espalharem rumores de que suas inscrições apontavam para um colapso do nosso planeta no ano de 2012 da era comum. Esse ano passou e os únicos desastres foram observados em produções de Hollywood que descrevem fielmente “fins do mundo” de várias formas.
Apesar dos rumores se mostrarem falsos, o interesse pelo calendário ainda existe na arqueologia, que o considera parte de um sistema único de escrita indígena, com uma matemática altamente sofisticada.
Um dos interessados por este assunto é o professor David Stuart — da Universidade do Texas — que publicou recentemente um relatório sobre achados na escavação do complexo de murais sub a pirâmide Las Pinturas, em San Bartolo, Guatemala, confeccionados no século III a.C. (STUART, 2022).
A pirâmide Las Pinturas é um dos mais importantes sítios arqueológicos da cultura maia pré-clássica, pois apresenta vários aspectos da origem da mitologia desse povo.
Para a surpresa de todos, descobriu-se, a pouco tempo, que a pirâmide foi construída em sete etapas, sendo a fundação, a parte mais antiga, só descoberta em 2002. Lá os arqueólogos encontraram artes ainda mais antigas, que, segundo o estilo hieroglífico e a datação por radiocarbono, foram concebidas entre 300 e 200 a.C.
Entre os itens pintados nos “novos” murais encontrados na pirâmide está uma cabeça de veado com o número maia 7 pintado sobre ela. Segundo Stuart, este é um registro de data do calendário mesoamericano, que tinha 260 dias.
Esse calendário, que não faz muito sentido nos dias de hoje, era usado em toda América Central nos tempos antigos, e estava tão profundamente enraizado na cultura local que sobreviveu a cinco séculos de colonização e repressão cultural, sendo utilizado por alguns descendentes até hoje.
Ele era composto por 13 ciclos de 20 dias, cada ciclo com o nome de um animal ou objeto, sendo o sétimo um veado (Manik’ em maia). No entanto, Manik’ também era uma denominação anual, que determinava um ano específico em um ciclo de 52 anos.
Independente de Manik’ significar um dia ou um ano, esse desenho é a mais antiga evidência da representação de um calendário, que aparece em abundância em inscrições 150 depois, tanto na cultura maia quanto na cultura zapoteca.
Outros exemplos de possíveis representações ainda mais antigas do calendário maia, alguns até 400 anos mais antigas que os murais de Las Pinturas, também reivindicam o pioneirismo, mas os pesquisadores ainda investigam tanto a idade quanto a relação dos símbolos com o calendário.
A gravura do Manik'(veado) no mural de Las Pinturas, por outro lado, demonstra, indubitavelmente, que o calendário já estava bem estabelecido na época em que a arte foi concebida.
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Referências
SAVKIC, Sanja. Pirámide de las Pinturas de San Bartolo, El Petén, Guatemala: espacialidad. Estudios de cultura maya, v. 50, p. 61-94, 2017.Disponível em: <link>. Acesso em:14 abr. 2022.
STUART, D. et al. An early Maya calendar record from San Bartolo. Science Advances, v. 8, n. 15, p. eabl9290, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em:14 abr. 2022.
Notícias
Earliest Evidence For Maya Calendar Found In Guatemalan Pyramid. IFL Science, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.
Fossilized Footprints. nps.gov, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 ago. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Exemplar mais antigo do calendário maia é encontrado em uma pirâmide na Guatemala. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, abr. 2022. Disponível em: . Acesso em: .