Em um trabalho científico recente, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Oxford em parceria com a empresa farmacêutica britânica NuCana, foi proposto um novo tratamento de quimioterapia para o câncer baseado na utilização desse fungo. Os resultados iniciais deste trabalho mostram que o fungo pode ser um potente agente anti-câncer e se tornar mais uma opção para pacientes em estágios avançados da doença (SCHWENZER, 2021).
A droga que está sendo desenvolvida foi batizada de NUC-7738 e tem como principal componente a cordicepina, também conhecida como 3-desoxiadenosina, um nucleosídeo natural, encontrada no fungo da lagarta, e conhecido por promover uma gama de efeitos anticâncer, antioxidante e anti-inflamatório. O NUC-7738 está em fase experimental, não estando, ainda, disponível como medicamento anti-câncer, embora os últimos ensaios clínicos tenham apresentado ótimos resultados.
O que motivou a síntese do NUC-7738 foi o fato da cordicepina natural extraída do fungo da lagarta ter algumas desvantagens. Inicialmente, ela é dissolvida muito rapidamente na corrente sanguínea — aproximadamente em 1,6 minutos no plasma — pela enzima adenosina desaminase, o que impede o organismo de absorvê-la corretamente. Além disso, a versão natural não é absorvida de forma eficiente pelas células, o que diminui ainda mais o potencial das moléculas anti-cancerígenas nas células tumorais do corpo.
Para ampliar o potencial da cordicepina como agente anti-câncer, o NUC-7738 faz uso de diversos avanços da engenharia, o que permite a ele entrar nas células independente dos transportadores nucleosídeos, como o transportador nucleosídeo de equilíbrio humano-1 (hENT1).
Diferente da versão natural da cordicepina, o NUC-7738 não depende do hENT1 para acessar as células, pois tem como vantagem já estar pré-ativado, o que dispensa a necessidade da enzima adenosine kinase. Além disso, ele é resistente a dissolução rápida na corrente sanguínea, pois possui proteção contra a adenosina desaminase.
No estudo de coorte realizado neste trabalho, o NUC-7738 mostrou que os seus aprimoramentos tornaram-no até 40 vezes mais eficiente do que a cordicepina natural quando testada contra uma variedade de células cancerosas em humanos.
Os resultados preliminares do primeiro ensaio clínico do NUC-7738 em humanos parecem ser promissores. A fase 1 do ensaio, que se iniciou em 2019 e ainda está em andamento, teve a participação de 28 pacientes voluntários com tumores avançados, resistentes a tratamentos convencionais.
De acordo com os pesquisadores que coordenam esse trabalho, as doses crescentes semanais de NUC-7738 dadas a esse grupo de pacientes voluntários têm sido bem toleradas, apresentando “sinais encorajadores de atividade antitumoral e estabilização prolongada da doença”. Para eles, esses resultados são uma evidência de que o NUC-7738 supera os mecanismos de resistência ao câncer que limitam a atividade da cordicepina natural. Este estudo dá ainda suporte a novos trabalhos futuros de avaliação clínica, que venham a consagrar o NUC-7738 como um novo tratamento contra o câncer.
Apesar dos resultados promissores, ainda vai levar um tempo até que o NUC-7738 esteja disponível para pacientes fora deste ensaio. Segundo a equipe, isso deverá ocorrer assim que a fase 2 do estudo for concluída, onde serão avaliadas todas as questões de segurança desse novo medicamento.
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Referências
SCHWENZER, Hagen et al. The novel nucleoside analogue ProTide NUC-7738 overcomes cancer resistance mechanisms in vitro and in a first-in-human Phase 1 clinical trial. Clinical Cancer Research, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 out. 2021.
SHRESTHA, Bhushan et al. What is the Chinese caterpillar fungus Ophiocordyceps sinensis (Ophiocordycipitaceae)?. Mycology, v. 1, n. 4, p. 228-236, 2010.. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 out. 2021.
Notícias
Cancer Drug Derived From Himalayan ‘Caterpillar Fungus’ Smashes Early Clinical Trial. Science Alert, 2021. Disponível em: <link>. Acesso em: 15 out. 2021.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Droga derivada do fungo da lagarta do Himalaia produz ótimos resultados no combate ao câncer. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, set. 2021. Disponível em: . Acesso em: .