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Como sabemos como é a Via Láctea?

De Galileu a sonda Gaia o estudo da Via Láctea é um complexo épico de descobertas cósmicas, que vão muito além de nossa visão a olho nu.

Como sabemos como é a Via Láctea? -

Imagem: Via Láctea (Venrike Artworks em Pixabay)

A Via Láctea é uma galáxia espiral com bilhões de estrelas à qual pertence o Sistema Solar.

Vista da Terra, nossa galáxia é uma faixa brilhante e difusa que envolve quase toda a esfera celeste, apresentando um aspecto intrincado, irregular e recortado por nuvens moleculares.

Embora os povos antigos se perguntassem sobre a natureza dessa majestosa faixa luminosa, a compreensão detalhada da nossa “casa cósmica” só começou a tomar forma no início do século XX.

O centro da Via Láctea, embora seja incansavelmente estudado através das imagens deslumbrantes capturadas por nossos telescópios, ainda é um mistério para os astrônomos.

O famoso astrônomo Galileu Galilei, no século XVII, foi o primeiro a perceber que a Via Láctea, do nosso ponto de vista, não era apenas uma “faixa luminosa”, mas um aglomerado composto por inúmeras estrelas tão pequenas que suas luzes se fundiam e formavam o que parecia uma “Via de Leite”.

No século XVIII, o filósofo Immanuel Kant e o astrônomo William Herschel contribuíram com ideias sobre a natureza rotativa da Via Láctea, mas foi apenas no início do século XX que o astrônomo Edwin Hubble descobriu que algumas “nebulosas”, como Andrômeda eram, na verdade, outras galáxias individuais.

Isso revelou que a faixa brilhante que vemos no céu noturno não é apenas um disco isolado de estrelas próximas, mas o centro de algo grande, do qual nós também fazemos parte.

Desde então, os astrônomos decidiram compreender nossa casa cósmica, mas logo perceberam que mapear a Via Láctea é uma tarefa monumental.

Sua vastidão, cerca de 100.000 anos-luz em seu ponto mais amplo, e sua enorme população estimada entre 100 a 400 bilhões de estrelas, tornam qualquer levantamento uma tarefa monumental.

Um dos maiores desafios em observar nossa galáxia é a poeira interestelar que age como uma barreira, obscurecendo a visão à medida que tentamos enxergar regiões mais distantes, paralelas ao disco.

Uma solução para observar essas regiões são os telescópios de luz infravermelha, como o James Webb, capazes de enxergar através da poeira interestelar.

Isso permite aos astrônomos estudar claramente estruturas como núcleos galácticos, buracos negros e formações estelares, que são frequentemente obscurecidas pela poeira em outras faixas do espectro eletromagnético.

A sonda Gaia, lançada em 2013, também é um marco na tentativa de entender a Via Láctea.

Sua missão é criar um censo estelar e até agora já catalogou quase 2 bilhões delas.

Contudo, essa cifra representa apenas cerca de 1% do total de estrelas na galáxia, o que reforça a enormidade dessa tarefa.

Diante dessas limitações, os astrônomos recorrem a modelagem teórica e observações comparativas com outras galáxias para formar um retrato mais completo.

A análise do movimento de aglomerados globulares, que orbitam o centro da Via Láctea, ajuda a revelar pistas valiosas sobre sua estrutura tridimensional.

Ao observar o movimento desses objetos em torno do núcleo galáctico, os cientistas conseguiram modelar a aparência da Via Láctea como um disco achatado, com um núcleo em forma de amendoim.

Os braços espirais, uma característica visualmente importante em outras galáxias espirais, ainda intrigam os astrônomos.

Apesar de parecerem densos, são apenas cerca de 10% mais povoados do que as áreas “vazias”.

Nossa posição privilegiada na galáxia, em uma área com formação estelar menos ativa, permite a identificação de regiões de formação estelar mais intensa para mapear os braços espirais.

Com isso, descobrimos que a Via Láctea possui pelo menos dois braços espirais proeminentes, ancorados no núcleo, formando uma estrutura que lembra um “S gigante”.

No entanto, a verdadeira complexidade da galáxia continua sendo um mistério, com debates sobre a presença de braços adicionais ou uma rede intricada de esporões e ramos.

Apesar dos avanços, qualquer “mapa” da Via Láctea é em grande parte uma conjectura em evolução, sujeita a mudanças à medida que a tecnologia melhora e nossa compreensão aprofunda.

A jornada para decifrar os segredos da nossa galáxia natal continua, alimentando a curiosidade humana e expandindo nossos horizontes cósmicos.

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Vídeos

Como Sabemos a Forma da Via Láctea?
Como Sabemos a Forma da Via Láctea?
Vídeo: Canal “Ciência Todo Dia” no Youtube.

Referências

How do we know what the Milky Way looks like? Space, 2024. Disponível em: <link>. Acesso em: 19 jan 2024.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Como sabemos como é a Via Láctea?. Ciência Mundo, jan 2024. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.