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Por que os rios do Alasca estão ficando laranja?

Os pesquisadores investigam se o degelo do permafrost, provocado pelo aquecimento global, está relacionado à cor alaranjada dos rios do Alasca.

Por que os rios do Alasca estão ficando laranja? -

Imagem: Rio Anaktok no Alaska - por Western Arctic (CC BY 2.0 DEED) .

Nos últimos dez anos, aproximadamente 75 rios no Alasca, em sua maioria localizados na Cordilheira Brooks, vêm passando por uma transformação preocupante. 

Esses cursos d’água, outrora conhecidos por sua imaculada pureza, agora exibem uma coloração alaranjada intensa, um fenômeno que tem intrigado cientistas e comunidades locais.

Rio Tukpahlearik.
Imagem: Taylor Roades (Scientific American).

A causa desse dramático processo de coloração está sendo investigada por pesquisadores, que apontam para uma possível relação com o degelo do permafrost, um fenômeno diretamente associado às mudanças climáticas. 

A descoloração alaranjada é atribuída à oxidação de ferro e à presença de ácido sulfúrico, indicando elevadas concentrações de metais pesados nos rios afetados. 

Este processo também sugere uma diminuição no pH da água, aumentando sua acidez, como apontado por especialistas na Scientific American.

Os impactos exatos dessa mudança nos níveis de pH nos ecossistemas fluviais são, até o momento, desconhecidos. 

Cientistas temem que a persistência desse fenômeno possa resultar na lixiviação de metais tóxicos, representando uma ameaça para a vida aquática e para as comunidades ribeirinhas. 

A relevância desse problema não se limita apenas à fauna aquática, pois as populações humanas que dependem desses rios para pesca e consumo de água também estão em risco.

O processo, denominado drenagem ácida de rochas, é uma das teorias em discussão para explicar a coloração. 

Cientistas analisando uma extensão de solo em degelo onde a água que escorre é tão ácida que mata toda a vegetação. A cor laranja provém da presença de ferro drenado pelo descongelamento.
Imagem: Taylor Roades (Scientific American).

Conforme o permafrost degela, a exposição da rocha matriz libera ácido sulfúrico e ferro, contaminando os rios. 

Uma segunda teoria, conhecida como “hipótese das áreas úmidas“, sugere que as bactérias do solo, ativadas pelo degelo das áreas úmidas, estão produzindo ferro solúvel, contribuindo para a coloração alaranjada.

Um estudo em andamento busca documentar esses eventos, analisando a química dos cursos d’água e testando hipóteses relacionadas à sua causa. 

Além disso, a pesquisa explora as ligações entre esse fenômeno e o aquecimento global, bem como as implicações para a qualidade da água e para os ecossistemas a jusante, de acordo com informações do United States Geological Survey.

A preocupação com o aumento da temperatura no Ártico é um fator agravante. 

Desde 2006, as temperaturas na região do Parque Nacional do Vale Kobuk aumentaram em cerca de 36 graus Fahrenheit. 

Especialistas preveem um aumento adicional de mais de 5 graus até o ano de 2100, o que torna a área cada vez mais suscetível à coloração alaranjada dos rios.

Em meio a esse cenário, o Rio Wulik emerge como um ponto crítico. 

Esse curso d’água representa uma ameaça direta para a vila costeira de Kivalina, onde 444 habitantes dependem da água e do peixe do rio para sua subsistência. 

O peixe Dolly Varden, apreciado pela comunidade, está particularmente suscetível aos perigos da contaminação.

Os cientistas, embora compreendam os mecanismos envolvidos na coloração dos rios, continuam a buscar respostas sobre a contaminação específica. 

A compreensão aprofundada desses processos torna-se crucial não apenas para conter os impactos imediatos sobre a vida aquática e as comunidades locais, mas também para informar estratégias de mitigação em um contexto mais amplo de mudanças climáticas e descongelamento do permafrost.

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Referências

Why Are Alaska’s Rivers Turning Orange? Scientific American, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 23 dez 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Por que os rios do Alasca estão ficando laranja?. Ciência Mundo, dez 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.