Enjoos matinais são uma experiência comum durante a gravidez, afetando cerca de 70% das mulheres.
Contudo, para uma pequena porcentagem, essa condição se manifesta de maneira mais severa, caracterizando a hiperêmese gravídica.
Um estudo recente, publicado na revista Nature em 13 de dezembro de 2023, identificou uma potencial causa para essa forma extrema de náusea e vômito, sugerindo algumas possibilidades de tratamento (FEJZO, 2023).
A pesquisa, liderada por Stephen O’Rahilly, pesquisador de metabolismo da Universidade de Cambridge, focou em um hormônio chamado GDF15, liberado por células fetais na placenta durante a gestação.
As descobertas sugerem que mulheres mais sensíveis a esse hormônio no início da gravidez apresentam maior propensão a desenvolver hiperêmese gravídica.
A análise dos dados genéticos de mais de 18.000 mulheres revelou que aquelas com níveis elevados de GDF15 antes da gravidez – independente do motivo – tiveram reações minimizadas durante a gestação.
Isso levou os pesquisadores a investigar algumas formas de terapia.
Em uma das abordagens, os cientistas analisaram a possibilidade de administrar GDF15 a mulheres com alto risco de hiperêmese gravídica antes da concepção, preparando seu corpo para o hormônio, diminuindo assim a sensibilidade e prevenindo a condição.
Os resultados de experimentos com animais reforçaram essa hipótese.
Injeções de GDF15 em camundongas não grávidas resultaram em uma resposta menor aos enjoos em comparação com aquelas que receberam um placebo.
Outra alternativa, mas com um efeito contrário, sugere o desenvolvimento de anticorpos que bloqueiem o GDF15 ou seus receptores durante a gravidez, também como uma possível abordagem terapêutica.
As implicações clínicas dessas descobertas são significativas. A possibilidade de administrar doses controladas de GDF15 a mulheres em risco antes da concepção abre perspectivas para a prevenção da hiperêmese gravídica.
No entanto, O’Rahilly ressalta que cautela é necessária, já que embora o estudo sugira a influência do GDF15, a compreensão desse hormônio na gravidez ainda é limitada, e outros fatores podem contribuir para a hiperêmese gravídica.
Além disso, é crucial recordar os desafios históricos enfrentados em tentativas de tratar condições relacionadas à gravidez.
O pesquisador menciona o caso da talidomida na década de 1950, que inicialmente foi usada para tratar enjoos durante a gravidez, mas resultou em efeitos adversos no desenvolvimento fetal.
Catherine Williamson, clínica obstétrica e pesquisadora no Imperial College London, destaca a necessidade de estudos adicionais para avaliar se a administração do GDF15 pode ter efeitos colaterais indesejados.
Segundo a pesquisadora, embora este estudo desvende os mecanismos por trás do enjoo matinal extremo, este conhecimento deve ser usado com cautela no desenvolvimento de abordagens terapêuticas que sejam eficazes e seguras.
Vídeos
…
Referências
FEJZO, M. et al. GDF15 linked to maternal risk of nausea and vomiting during pregnancy. Nature, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 13 dez 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Enjoo matinal extremo? Cientistas finalmente identificam uma possível causa. Ciência Mundo, dez 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.