Galáxias espirais, como a Via Láctea, não são comuns em nossa vizinhança cósmica próxima, um fenômeno que a tempos intriga os especialistas.
Para tentar desvendar esse enigma, um novo estudo, realizado na Universidade de Helsinque, na Finlândia, investigou minuciosamente o Plano Supergaláctico com a ajuda de um supercomputador.
O Plano Supergaláctico é uma enorme estrutura achatada – similar a uma extensa folha – com cerca de um bilhão de anos-luz de largura, que contém vários aglomerados de galáxias, incluindo nosso agrupamento local.
Imagem: Caltech.
A localização da Via Láctea dentro de um aglomerado de galáxias no Plano Supergaláctico é algo curioso, pois esse deveria ser um cenário pouco provável para uma galáxia espiral.
Na região do Plano Supergaláctico, galáxias elípticas, predominantemente compostas por estrelas antigas que abrigando buracos negros supermassivos, proliferam.
Por outro lado, as galáxias espirais, caracterizadas por braços delicados e buracos negros menos imponentes, são notavelmente escassas.
Para compreender melhor essa assimetria, os astrônomos conduziram simulações através de um supercomputador denominado Simulations Beyond the Local Universe (SIBELIUS).
Os pesquisadores utilizaram essa ferramenta para retroceder a história do desenvolvimento das galáxias próximas, ao longo de 13,8 bilhões de anos, desde o Big Bang, a fim de reconstruir um modelo representativo da evolução do Plano Supergaláctico.
Galáxias próximas ao Plano Supergaláctico
Os resultados das simulações mostraram que as galáxias elípticas surgem naturalmente no Plano Supergaláctico, pois essa é uma região de aglomerados densos, onde, frequentemente, colisões catastróficas acontecem.
Esses eventos violentos resultam na fragmentação dos delicados braços espirais iniciais, transformando as galáxias em formas elípticas.
O processo não apenas altera a estrutura física das galáxias, mas também contribui para o aumento dos buracos negros supermassivos no centro delas.
A cada nova colisão, os buracos negros galácticos se fundem em um novo buraco negro, que atrai ainda mais matéria em sua direção.
É este o fenômeno que favorece a predominância de galáxias elípticas na região, enquanto as espirais são aniquiladas ou transformadas.
Galáxias distantes do Plano Supergaláctico
Por outro lado, galáxias espirais que evoluíram em regiões distantes do Plano Supergaláctico, em aglomerados menos densos, escaparam em grande parte desses eventos catastróficos.
Livres das colisões frequentes, essas galáxias preservam sua estrutura original ao longo do tempo cósmico.
Isso não as impede de colidir, mas contrasta com o destino das galáxias espirais que nascem no Plano Supergaláctico e sofrem as consequências de um histórico violento de encontros galácticos.
A Via Láctea
Um fato curioso é que a Via Láctea está no Plano Supergaláctico, mas ainda é uma galáxia espiral.
Embora nossa galáxia tenha escapado em grande parte desses eventos tumultuosos, sua posição única no Plano Supergaláctico a torna uma exceção notável em meio a um “cenário violento” predominantemente dominado por galáxias elípticas.
Os pesquisadores agora investigam os motivos que levaram a essa “sorte cósmica” com novas simulações e observações que prometem fornecer insights adicionais sobre essa complexa dança que molda as galáxias em nosso Universo.
Vídeos
Vídeo: Canal “Mirando al Cielo” em Youtube.
Referências
SAWALA, Till et al. Distinct distributions of elliptical and disk galaxies across the Local Supercluster as a ΛCDM prediction. Nature Astronomy, p. 1-9, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 4 dez 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. A Via Láctea é única e estamos começando a descobrir o porquê. Ciência Mundo, dez 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
