A busca por compreender a natureza da consciência humana é um desafio complexo que há muito intriga cientistas e filósofos.
Por consciência, estamos considerando a capacidade de alguém (ou algo) de estar ciente e perceber o mundo ao seu redor.
O estudo da consciência é uma tarefa desafiadora, já que envolve não apenas questões científicas, mas também aspectos filosóficos e morais.
Recentemente, um debate em torno das teorias que buscam explicar a origem da consciência chamou a atenção no mundo acadêmico.
Atualmente, os pesquisadores investigam duas teorias rivais:
– Teoria da Informação Integrada;
– Teoria do Espaço de Trabalho Global.
Em junho de 2023, foi realizado um “concurso experimental” entre essas teorias, com a presença da mídia, durante a 26ª reunião anual da Associação para o Estudo Científico da Consciência em Nova York.
Para a surpresa de todos, os resultados produzidos no evento foram inconclusivos, deixando a comunidade científica sem uma resposta definitiva, sobre qual teoria seguir.
Isso revoltou alguns pesquisadores, contrários a Teoria da Informação Integrada, que acharam que o evento “midiático” serviu para popularizar esta teoria.
A Teoria da Informação Integrada, proposta pelo neurocientista italiano Giulio Tononi em 2004, afirma que a consciência está relacionada à quantidade de “informação integrada” que um sistema contém, indo além das informações das partes individuais desse sistema.
Uma das críticas à Teoria da Informação Integrada é que ela sugere que a consciência está amplamente distribuída na natureza, até mesmo em sistemas simples, como em circuitos de computador inativos.
Isso levanta questões sobre a consciência em entidades como inteligência artificial e fetos em estágios iniciais de desenvolvimento.
Recentemente, um grupo de 124 cientistas da consciência e filósofos, muitos deles proeminentes em suas áreas, publicou uma carta aberta acusando a Teoria da Informação Integrada de ser uma pseudociência!
Esta ação gerou uma considerável polêmica na comunidade científica.
A carta faz três manifestos principais.
Primeiro, argumenta que a Teoria da Informação Integrada tem recebido mais atenção da mídia do que deveria, além de não merecer o título de “teoria líder da consciência”, como é considerada por alguns.
Segundo, destaca preocupações com as implicações da teoria, incluindo seu impacto na prática clínica e questões éticas relacionadas à IA, pesquisa com células-tronco, testes em animais e aborto.
Por fim, alega que esta teoria é uma pseudocientífica devido à falta de testabilidade empírica.
Os defensores da Teoria da Informação Integrada argumentam que esta abordagem é investigada por muitos pensadores acadêmicos, não sendo uma visão isolada.
Pesquisas realizadas em 2018 e 2019 revelaram que quase metade dos cientistas da consciência considerava a teoria “promissora”.
Além disso, os pesquisadores que adotam essa abordagem têm realizado muitos debates e revisões na comunidade científica.
A controvérsia atual destaca não apenas a complexidade da questão da consciência, mas também a natureza intrincada do processo científico.
Enquanto algumas críticas à Teoria da Informação Integrada são válidas e necessárias, rotulá-la como pseudociência pode ser um exagero.
A ciência da consciência está em constante evolução, e teorias como essa são parte fundamental desse processo de busca pelo entendimento da complexidade da mente humana.
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Referências
Nobody knows how consciousness works – but top researchers are fighting over which theories are really science. The Conversation, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 3 out 2023.
Decades-long bet on consciousness ends — and it’s philosopher 1, neuroscientist 0. Nature, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 3 out 2023.
Thousands of species of animals probably have consciousness. The Economist, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 3 out 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Cientistas debatem: Quando algo se torna consciente?. Ciência Mundo, out 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.