Um canhão do século XIV encontrado no leito do Mar Báltico, próximo à costa da Suécia, vem intrigando arqueólogos e historiadores marítimos desde sua descoberta em 2001.
Uma análise recente do artefato revelou informações significativas sobre sua origem e uso.
De acordo com um estudo publicado no periódico The Mariner’s Mirror, a análise de fragmentos de tecido encontrados dentro do canhão, presumivelmente parte de uma bolsa de pólvora, indicou que o artefato remonta ao século XIV (VON-ARBIN, 2023).
Essa datação o torna um dos canhões de bordo mais antigos já encontrados na Europa.
Uma característica peculiar desse canhão é seu propósito de disparar pedras em vez de projéteis de metal, um fato que o diferencia das armas de artilharia convencionais.
Segundo o autor do estudo, Staffan von Arbin, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, esses canhões tinham como objetivo “limpar o convés” de navios inimigos, em vez de afundá-los.
A forma distinta do canhão, em formato de funil, é característica dos primeiros modelos introduzidos na Europa no século XIII, provavelmente influenciados pela tecnologia do Oriente Médio.
A razão específica para essa forma ainda é desconhecida, mas suspeita-se que estivesse relacionada ao processo de carregamento.
A análise do material do canhão revelou outro aspecto intrigante.
Ao contrário do esperado, o artefato não foi feito de bronze de artilharia, uma liga de cobre e estanho, normalmente utilizada para esta finalidade, pois aumentava a durabilidade.
Em vez disso, o canhão era feito de uma liga de cobre com quantidades reduzidas de estanho e altos teores de chumbo, tornando-o mais frágil.
Esse tipo de liga não era adequado para a fabricação de armas, o que sugere que as ligas superiores não eram conhecidas na época.
A equipe de pesquisa não conseguiu determinar se o canhão fazia parte de um navio mercante ou de guerra.
No entanto, especula-se que o Báltico, altamente frequentado por navios de comércio no século XIV, estava sujeito a ataques de piratas e embarcações inimigas, o que poderia explicar a presença de armas de bordo.
A localização onde o canhão foi encontrado, a uma profundidade de cerca de 20 metros, a cerca de 5 quilômetros da ilha de Marstrand, apresenta desafios significativos para os pesquisadores.
O naufrágio provavelmente está bastante fragmentado devido à exposição às condições adversas do ambiente marinho daquele local.
No entanto, a equipe de pesquisa planeja realizar uma análise mais detalhada do leito do mar na esperança de encontrar mais vestígios do canhão e, possivelmente, obter informações adicionais sobre a data e a origem do navio estudando sua madeira.
Essa pesquisa pode revelar mais detalhes sobre o passado marítimo da Europa e o uso de armas de bordo em navios daquela era.
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Referências
VON ARBIN, Staffan; SMITH, Kay Douglas; SKOWRONEK, Tobias B. The Marstrand Cannon: The earliest evidence of shipboard artillery in Europe?. The Mariner’s Mirror, v. 109, n. 3, p. 260-282, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 20 set 2023.
Notícias
14th-century shipboard cannon that fired ‘stone shots’ may be Europe’s oldest on record. Live Science, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 20 set 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Canhão de “balas de pedra” pode ser o mais antigo da Europa. Ciência Mundo, set 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.