A presença de insetos nas refeições sempre foi amplamente indesejada na alimentação diária ocidental.
No entanto, um estudo conduzido pela Universidade de Washington sugere que os nutrientes presentes na quitina – um polissacarídeo encontrado nos exoesqueletos de insetos, cascas de crustáceos e fungos – podem desencadear uma resposta imunológica inata que beneficia o metabolismo dos mamíferos (KIM, 2023).
Os pesquisadores alimentaram camundongos com uma dieta que continha quitina por um período.
Como resultado, os estômagos dos animais se adaptaram e começaram a produzir uma resposta imunológica especializada.
A principal consequência dessa resposta foi a produção da enzima intestinal AMCase (acidic mammalian chitinase), fundamental para a digestão da quitina.
Além disso, houve a ativação de células envolvidas na regulação dos tecidos adiposos.
Esse fenômeno é notável porque, normalmente, os mamíferos não produzem enzimas capazes de digerir polissacarídeos volumosos como a quitina.
No entanto, a quitina parece ser uma exceção, possuindo raízes evolutivas profundas.
Estudos sugerem que, antes da extinção dos dinossauros, mamíferos ancestrais consumiam insetos em proporções significativamente maiores do que os mamíferos modernos.
Além disso, algumas evidências indicam que alguns mamíferos já tinham adaptações para a digestão da quitina há milhões de anos.
Atualmente, muitos mamíferos, incluindo seres humanos, ainda consomem insetos.
Esses insetos são seguros para o consumo humano e podem fornecer nutrientes essenciais, como proteínas, de maneira sustentável.
Os resultados do atual estudo sugerem que a quitina pode ter potenciais benefícios na saúde metabólica quando incluída na dieta.
Os camundongos que receberam quitina juntamente com uma dieta rica em gordura apresentaram melhorias nas leituras metabólicas em comparação com os que receberam apenas a dieta rica em gordura.
Além disso, a ingestão de quitina parece promover a saúde do microbioma no trato gastrointestinal inferior, o que já foi observado em estudos anteriores.
Para compreender melhor os mecanismos envolvidos, os pesquisadores impediram que alguns camundongos produzissem a enzima AMCase, o que os tornou incapazes de digerir a quitina.
Surpreendentemente, mesmo quando esses camundongos foram alimentados com uma dieta rica em gordura contendo quitina, eles mostraram resistência ao ganho de peso em comparação com os demais grupos.
Uma observação notável foi o aumento dos níveis de células linfoides inatas do tipo 2 (ILC2) nos camundongos incapazes de digerir a quitina.
Essas células foram recentemente identificadas como influentes na regulação dos tecidos adiposos.
A digestão da quitina, ao que parece, depende principalmente das quitinases do próprio hospedeiro.
Isso ocorre mesmo sem a contribuição das bactérias no trato gastrointestinal, que também possuem quitinases capazes de degradar a quitina.
Os pesquisadores agora planejam estender essas descobertas para participantes humanos, o que pode abrir novas possibilidades para melhorar a saúde metabólica e imunológica por meio da inclusão controlada de quitina na dieta humana.
Contudo, mais pesquisas são necessárias para entender completamente os mecanismos envolvidos e os efeitos a longo prazo desse nutriente em seres humanos.
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Referências
KIM, Do-Hyun et al. A type 2 immune circuit in the stomach controls mammalian adaptation to dietary chitin. Science, v. 381, n. 6662, p. 1092-1098, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 2 jun 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Comer insetos faz bem para o metabolismo, sugere estudo. Ciência Mundo, set 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.