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Estrutura descoberta ao longo do Nilo é o sistema hidráulico mais antigo de seu tipo

Imagens de satélite revelaram tecnologias hidráulicas com mais de três milênios, construídas por civilizações da Núbia e utilizadas até hoje.

Estrutura descoberta ao longo do Nilo é o sistema hidráulico mais antigo de seu tipo - quebra-mar antigo

Imagem: "Quebra-mar com mais de três milênios" por DE DALTON, 2023..

Descobertas arqueológicas revelam que as antigas civilizações da Núbia, no Sudão, possuíam um sistema hidráulico avançado que remonta a cerca de 3.000 anos atrás (DALTON, 2023)

Uma antiga rede de “quebra-mares de rio” ao longo do Nilo representa o mais antigo sistema desse tipo já encontrado.

Os quebra-mares são estruturas rígidas, dispostas em costas marítimas (ou perpendicularmente à margem de rios) utilizadas até os dias atuais para manipular o fluxo da água e dos sedimentos. 

Normalmente, consistem em um muro relativamente baixo construído para evitar que o movimento repetido das ondas ou do fluxo da água remova camadas de terra.

Exemplos de métodos de construção de quebra-mares. (a) Paredes laterais paralelas, planas. (b) Paredes laterais perpendiculares verticais. (c) Homogêneo. (d) Linha única. (e) Monte linear indeterminado. (f) Dispersão linear indeterminada.
Imagem: DALTON, 2023.

Os agricultores e navegadores ao longo do Nilo já conheciam sua utilidade há muito tempo.

Para encontrar essas estruturas, pesquisadores da Austrália e do Reino Unido, utilizaram dados de satélite que revelaram centenas de quebra-mares que ainda estão preservados no Sudão. 

Os quebra-mares encontrados perto de sítios arqueológicos da Núbia estão frequentemente submersos em canais ativos, o que dificulta sua datação adequada. 

No entanto, aqueles encontrados em leitos de rios secos, próximos à cidade murada de Amara West, foram datados entre 3.000 e 3.300 anos atrás.

A forma, orientação e tamanho dessas estruturas revelam pistas sobre seus possíveis propósitos. 

Os pesquisadores acreditam que esses quebra-mares foram utilizados para reter os sedimentos férteis do Nilo, irrigar as terras, limitar a erosão das margens, proteger contra enchentes sazonais, criar piscinas de pesca, além de criar barreiras para evitar que ventos de areia prejudicassem as plantações.

Assim, esses quebra-mares desempenharam um papel crucial ao permitir que as comunidades da Núbia cultivassem alimentos e prosperassem em um ambiente desafiador por mais de 3.000 anos. 

Além disso, essas estruturas monumentais permitiram conexão entre o antigo Egito e a Núbia, facilitando o transporte de recursos, exércitos, pessoas e ideias ao longo do Nilo. 

Mapa das paredes (linhas brancas) localizadas na Ilha Sai, Quweyka e Sermutta. (a) Estruturas estreitas de pedra seca criando piscinas fechadas na borda de um banco de areia da Ilha Sai. (b) Muro monumental, parcialmente submerso, de blocos de quartzo.
Imagem: DALTON, 2023.

É interessante notar que, mesmo após três milênios, essa tecnologia hidráulica ainda é empregada pelos habitantes locais, embora em contextos diferentes. 

Relatos de agricultores sudaneses confirmam que os quebra-mares continuaram a ser construídos até a década de 1970 e que as terras formadas por essas estruturas ainda são cultivadas hoje.

Essas descobertas desafiam as concepções anteriores de que a prática de instalar quebra-mares ao longo do Nilo era moderna, datando do século XIX. 

É surpreendente que a importância desses quebra-mares tenha passado despercebida por tanto tempo.

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Referências

DALTON, Matthew et al. Three thousand years of river channel engineering in the Nile Valley. Geoarchaeology, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 20 jun 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. Estrutura descoberta ao longo do Nilo é o sistema hidráulico mais antigo de seu tipo. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.