Um estudo recente revelou a capacidade dos crocodilos fêmeas de reproduzirem-se sem acasalamento.
Apesar dessa estratégia reprodutiva peculiar, chamada partenogênese, ter raízes evolutivas que remontam à era dos dinossauros, essa é a primeira vez que os cientistas encontraram evidências de partenogênese em crocodilos.
O estudo foi realizado em 2018, quando um crocodilo americano fêmea, mantido em cativeiro por 16 anos, pôs uma ninhada de ovos (BOOTH, 2023).
Surpreendentemente, um dos ovos continha um feto feminino, sem nenhuma contribuição genética de um macho.
Análises genéticas revelaram que o crocodilo fêmea produziu os ovos por partenogênese, também conhecida como “nascimento virgem“.
O filhote tem genótipos semelhantes à mãe em mais de 99,9%, demonstrando uma falta de alelos paternos.
A partenogênese é uma forma de reprodução assexuada na qual fêmeas podem gerar descendentes sem a necessidade de acasalamento com machos.
Em vez de serem fertilizados por espermatozoides, os ovos se desenvolvem a partir da fusão de duas células da fêmea.
Esse fenômeno tem sido observado em mais de 80 espécies de vertebrados, incluindo lagartos, serpentes, tubarões e raias.
Até então, a partenogênese em vertebrados era predominantemente observada em animais mantidos em cativeiro.
No entanto, a descoberta de partenogênese em crocodilos selvagens sugere que essa estratégia reprodutiva pode ser adotada como uma resposta de sobrevivência em populações escassas ou à beira da extinção.
A descoberta também levanta questões sobre os antigos parentes evolutivos dos crocodilos, como os dinossauros e os répteis voadores do grupo Pterosauria.
Os crocodilos e as aves são membros vivos de um grupo de répteis chamado arcossauros, que inclui os dinossauros.
A presença da partenogênese em crocodilos e aves sugere a possibilidade de que os dinossauros também pudessem ter essa habilidade reprodutiva.
A partenogênese ocorre quando a fêmea funde um óvulo, contendo metade de seus cromossomos, com uma célula haploide chamada corpo polar, que é remanescente da produção de óvulos nos ovários.
Esse processo resulta em descendentes geneticamente semelhantes à mãe, pois eles herdam apenas seus cromossomos.
Embora a partenogênese permita que fêmeas se reproduzam mesmo na ausência de machos, ela não é um método sustentável de reprodução a longo prazo.
A falta de diversidade genética resultante da partenogênese pode tornar as populações mais vulneráveis a doenças e mudanças ambientais.
Além disso, a taxa de sucesso de eclosão de ovos partenogenéticos em outras espécies é baixa, chegando a apenas 3%.
Mesmo assim, os pesquisadores afirmam que essa descoberta abre novas perspectivas para a compreensão da evolução reprodutiva dos crocodilos e de outros animais vertebrados.
Pesquisas futuras serão necessárias para investigar a distribuição e a dinâmica da partenogênese ao longo do tempo evolutivo, bem como seu papel na sobrevivência de populações ameaçadas.
Compreender os mecanismos e os impactos da partenogênese nos vertebrados é fundamental para a conservação da diversidade biológica e para a compreensão da evolução reprodutiva dos seres vivos.
Referências
BOOTH, Warren et al. Discovery of facultative parthenogenesis in a new world crocodile. The Royal Society, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 8 jun 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Crocodilo fêmea virgem “engravida” sozinha. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.