Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Radboud, na Holanda, sugere que qualquer inclinação suficientemente íngreme da curvatura do espaço-tempo pode produzir um efeito semelhante ao da radiação de Hawking, levando à evaporação gradual do Universo (WONDRAK, 2023).
A radiação de Hawking, proposta pelo físico inglês Stephen Hawking, é um fenômeno em que os buracos negros perdem massa ao longo do tempo, emitindo uma espécie de radiação peculiar enquanto o horizonte de eventos interfere nos campos quânticos dos materiais circundantes.
Os pesquisadores explicam que, o que torna um buraco negro especial é a sua incrível densidade, ou seja, a grande quantidade de massa que ele comprime em um espaço muito pequeno.
Esse objeto absurdamente denso cria um campo gravitacional tão forte ao seu redor que a velocidade de escape — a velocidade necessária para se afastar do objeto — se torna impossível.
Nem mesmo a velocidade da luz no vácuo, a coisa mais rápida do Universo, é suficiente para escapar desse campo gravitacional intenso.
A fronteira de um buraco negro a partir de onde nada mais consegue escapar é conhecida como horizonte de eventos.
Hawking demonstrou matematicamente que horizontes de eventos podem interferir nas flutuações complexas dos campos quânticos, gerando um desequilíbrio nas probabilidades e emitindo novas partículas.
A energia dessas partículas geradas espontaneamente está diretamente ligada ao buraco negro.
No entanto, um buraco negro tem tanta gravidade quanto qualquer outro corpo com massa equivalente.
E é aí que entra o novo estudo da Universidade Radboud, que revela que qualquer objeto que cause uma curvatura suficientemente acentuada do espaço-tempo pode gerar um efeito similar ao da Radiação de Hawking.
Isso significa que essa radiação, ou algo muito parecido com ela, pode existir além dos buracos negros, podendo estar presente em todo o Universo.
Os pesquisadores demonstraram que, além da conhecida Radiação de Hawking, existe uma nova forma de radiação, que não depende de um horizonte de eventos.
Esse fenômeno pode ocorrer em objetos massivos ou densos, como estrelas de nêutrons, anãs brancas e aglomerados de galáxias, os quais também causam uma curvatura significativa no espaço-tempo ao seu redor.
Os cientistas destacam que, mesmo objetos sem horizonte de eventos, como os remanescentes de estrelas mortas e outros objetos grandes no Universo, podem produzir esse tipo de radiação.
Com o tempo, isso levaria à evaporação de tudo no Universo, assim como ocorre com os buracos negros.
Em termos práticos, essa descoberta implica que o Universo está evaporando lentamente diante de nossos olhos.
Essa descoberta não apenas modifica nossa compreensão da Radiação de Hawking, mas também nossa visão do Universo e de seu futuro.
No entanto, não há motivo para preocupação em um futuro próximo, pois temos muito tempo antes que tudo desapareça.
Para se ter ideia, um buraco negro com massa equivalente a do Sol — com um horizonte de eventos de apenas 6 quilômetros —levaria 1064 anos para evaporar.
Isso é muuuuuito tempo…
Referências
WONDRAK, Michael F.; VAN SUIJLEKOM, Walter D.; FALCKE, Heino. Gravitational Pair Production and Black Hole Evaporation. arXiv preprint arXiv:2305.18521, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 4 jun 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Tudo no Universo vai evaporar, revela estudo sobre a radiação de Hawking. Ciência Mundo, jun 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.