A insônia é um distúrbio que afeta cerca de 60% da população e que, além de prejudicar a qualidade de vida, está associada a problemas de saúde a longo prazo, como depressão e doenças cardiovasculares.
Um estudo recente revelou um fator que pode tornar a condição de insônia ainda mais desgastante: o monitoramento do tempo, ou seja, o ato de ficar vigiando o relógio (DAWSON, 2023).
Os pesquisadores descobriram que alguns tipos de insônia estão relacionados a uma espécie de ciclo vicioso, onde a frustração por não conseguir dormir leva ao monitoramento do tempo, o que piora a insônia, aumentando ainda mais o monitoramento do tempo e assim sucessivamente.
De acordo com o psicólogo clínico Spencer Dawson, da Universidade de Indiana Bloomington, “as pessoas ficam preocupadas por não estarem dormindo o suficiente e começam a estimar quanto tempo levarão para voltar a dormir e quando precisarão acordar”.
No entanto, essa atividade não é útil para facilitar o sono, já que, quanto mais estressada a pessoa estiver, mais difícil será adormecer.
Para entender melhor essa relação, os pesquisadores analisaram dados de 4.886 pacientes que responderam a um questionário em um centro médico especializado em distúrbios do sono no Arizona.
O estudo avaliou (1) a gravidade da insônia, (2) o tempo gasto com o monitoramento e (3) o uso de medicamentos para dormir.
A análise dos dados revelou uma forte conexão entre os três fatores.
Aqueles que sofriam de insônia e apresentavam condições psiquiátricas associadas relataram maior monitoramento do tempo e maior uso de medicamentos para dormir.
Além disso, os pesquisadores constataram que a frustração exacerbada pelo monitoramento do tempo está diretamente ligada ao aumento do uso de medicamentos para melhorar o sono.
Isso fortalece a hipótese de que o monitoramento do tempo impulsiona o uso desses medicamentos, principalmente porque a frustração intensificada piora a insônia.
Embora o monitoramento do tempo seja um fator importante no uso de medicamentos para dormir, os pesquisadores ressaltaram que a frustração causada pela dificuldade em adormecer também desempenha um papel significativo no tratamento da insônia.
Com base nesses resultados, os pesquisadores recomendaram terapias específicas, como a reestruturação cognitiva e o tratamento do processamento emocional, para reduzir a frustração e, consequentemente, diminuir o uso de medicamentos para dormir.
É importante destacar que esse estudo faz parte de uma investigação mais ampla sobre o uso frequente de medicamentos para dormir, sejam eles de prescrição ou de venda livre.
Esses medicamentos levantam preocupações sobre os riscos à saúde e sua eficácia a longo prazo.
Portanto, é fundamental buscar intervenções simples que possam reduzir o uso desses medicamentos.
Uma sugestão dos pesquisadores é evitar o monitoramento constante do tempo durante o sono, como virar ou cobrir o relógio, abandonar o uso de relógios inteligentes e manter o celular afastado ou desligado durante a noite.
Compreender o impacto do monitoramento do tempo na insônia é um passo importante para melhorar a qualidade do sono e reduzir a dependência de medicamentos.
Estudos futuros podem explorar ainda mais essa relação, envolvendo grupos maiores de pessoas e acompanhando-as ao longo de períodos mais extensos.
Em última análise, o objetivo é promover abordagens eficazes e seguras para o tratamento da insônia, proporcionando um sono saudável e restaurador para todos.
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Referências
DAWSON, Spencer C. et al. Use of Sleep Aids in Insomnia: The Role of Time Monitoring Behavior. The Primary Care Companion for CNS Disorders, v. 25, n. 3, p. 47122, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Fazer isso só piora a insônia, alertam psicólogos. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.