Um cinturão de radiação é uma região ao redor de um corpo celeste onde partículas energéticas, como elétrons, são capturadas e mantidas pelo campo magnético do objeto.
Essas partículas em movimento emitem radiação, criando uma espécie de bolha ao redor do corpo celeste.
Os cinturões de radiação fornecem informações sobre o campo magnético, a estrutura interna e as interações do objeto com o ambiente espacial ao seu redor.
Em nosso sistema solar, todos os planetas com campos magnéticos possuem cinturões de radiação.
A Terra, por exemplo, possui os conhecidos cinturões de Van Allen, que se originam do decaimento de elétrons capturados de raios cósmicos que atingem a atmosfera.
Júpiter, por sua vez, possui cinturões de radiação alimentados principalmente pelas partículas provenientes de sua lua vulcânica, Io.
No entanto, a descoberta recente vai além dos limites do nosso sistema solar.
Astrônomos liderados por Melodie Kao, da Universidade da Califórnia, Santa Cruz, observaram um objeto com aproximadamente o tamanho de Júpiter chamado LSR J1835+3259 (KAO, 2023).
Utilizando uma rede composta por 39 antenas de rádio espalhadas do Havaí à Alemanha, a equipe foi capaz de criar um telescópio virtual do tamanho da Terra, permitindo um estudo detalhado do ambiente em torno desse distante objeto.
O que chamou a atenção dos pesquisadores foi a identificação de um cinturão de radiação que se assemelha aos cinturões de Júpiter, porém com uma intensidade 10 milhões de vezes maior.
O objeto em questão possui massa cerca de 80 vezes maior do que Júpiter, o que o coloca em uma categoria intermediária entre uma estrela de pequeno porte e uma anã marrom, que é um corpo estelar insuficientemente massivo para sustentar a fusão nuclear de hidrogênio.
Uma das questões que permanece em aberto é a origem dos elétrons energeticamente carregados dos seus cinturões desse objeto.
Ao contrário dos objetos em nosso sistema solar, o LSR J1835+3259 não orbita uma estrela e não parece emitir explosões solares que poderiam ser responsáveis pela alimentação desse cinturão de radiação.
Uma hipótese levantada pelos cientistas é a possibilidade de existência de uma lua vulcânica em torno do objeto, porém essa é apenas uma especulação que requer investigações adicionais.
Embora a descoberta seja fascinante por si só, sua importância vai além.
O conhecimento de que LSR J1835+3259 possui um cinturão de radiação auxiliará os pesquisadores na interpretação de dados provenientes de exoplanetas no futuro.
Embora esse cinturão de radiação não possa ser observado diretamente, compreender a existência e características desse fenômeno é fundamental para a compreensão da história dos exoplanetas.
À medida que continuamos a investigar o vasto cosmos, descobertas como essa nos aproximam cada vez mais de desvendar os segredos do universo.
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Referências
KAO, Melodie M. et al. Resolved imaging of an extrasolar radiation belt around an ultracool dwarf. arXiv preprint arXiv:2302.12841, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 16 maio 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Primeiro cinturão de radiação descoberto fora do sistema solar. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.