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DNA antigo humano é extraído de pingente de dente de veado de 20.000 anos

Os pesquisadores utilizaram um novo método para extrair o DNA antigo humano impregnado em um artefato sem destruí-lo.

DNA antigo humano é extraído de pingente de dente de veado de 20.000 anos - pingente de 20000 anos de dente de veado usado por uma mulher.

Imagem:  DE-OLIVEIRA-NOGUEIRA, 2023.

Uma nova técnica para recuperar o DNA antigo de objetos e artefatos sem destruí-los foi desenvolvida por pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha.

No estudo, publicado em maio de 2023 na revista Nature, os pesquisadores relataram ter extraído material genético de um dente de veado perfurado que possivelmente era usado como pingente (ESSEL, 2023)

A análise do DNA indicou que a fabricante ou usuária do objeto era uma mulher Homo sapiens que viveu há cerca de 20.000 anos atrás na Sibéria. 

Comparando o DNA, os pesquisadores também descobriram que a mulher estava relacionada com as pessoas que viviam mais a leste na Sibéria nessa época.

O novo método de extração de DNA pode ajudar a esclarecer se homens e mulheres faziam e usavam ornamentos pessoais, bem como revelar se os H. sapiens ou os Neandertais criavam certos tipos de ferramentas e ornamentos em partes da Eurásia que foram ocupadas por ambas as espécies ao mesmo tempo

Isso pode ajudar a entender melhor a divisão do trabalho e o papel dos indivíduos de diferentes espécies Homo nas sociedades pleistocênicas.

Normalmente, o DNA antigo é extraído de pequenas quantidades de pó perfuradas em ossos e dentes. 

No entanto, há uma relutância compreensível em perfurar achados raros e delicados, como pingentes e outros ornamentos, pois eles podem ser deformados ou até mesmo destruídos no processo. 

Além disso, as técnicas atuais permitem que o DNA humano seja isolado dos sedimentos que compõem os artefatos, mas não permite identificar o sexo ou a espécie (sapiens, neandertal etc) da pessoa que manuseou tais artefatos.

O novo método de extração de DNA, desenvolvido pelos pesquisadores alemães, envolve submergir objetos ósseos e dentários em uma solução de fosfato de sódio por três períodos de 30 minutos, utilizando quatro temperaturas diferentes. 

Os objetos são primeiro colocados em uma solução em temperatura ambiente, seguida por três soluções cada vez mais quentes, terminando a 90 graus Celsius.

O tratamento na temperatura mais alta liberou DNA humano que havia penetrado profundamente no objeto de dente por meio de contato extensivo quando ele foi feito ou usado. 

As temperaturas mais baixas da solução liberaram DNA antigo mais próximo da superfície do pingente que se originou do sedimento circundante, revelando uma espécie de alce.

A análise do DNA do alce e do DNA mitocondrial humano, gerou uma estimativa de idade para o pingente de 18.500 a 24.700 anos

Isso é consistente com as datas de radiocarbono para madeira queimada que os pesquisadores também desenterraram próximo ao pingente. 

As datas de radiocarbono são mais precisas do que as geradas a partir de DNA antigo, mas nem sempre podem ser obtidas de artefatos frágeis ou pequenos.

O novo método de extração de DNA pode ter um grande impacto no campo da arqueologia e paleontologia, permitindo que os pesquisadores descubram mais sobre as culturas do passado sem danificar artefatos raros e delicados. 

Além disso, a técnica pode ajudar a responder questões importantes sobre a divisão do trabalho e o papel de diferentes espécies Homo nas sociedades pleistocênicas.

Embora os resultados iniciais do estudo sejam promissores, os pesquisadores alertam que ainda há limitações em relação à precisão do método. 

No entanto, a equipe está confiante de que essa tecnologia continuará a evoluir e que novos aprimoramentos surgirão para superar esses desafios.

Com a nova técnica, os arqueólogos e paleontólogos podem ter mais ferramentas à sua disposição para entender melhor a vida e as culturas dos povos que viveram antes de nós.

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Referências

ESSEL, Elena et al. Ancient human DNA recovered from a Palaeolithic pendant. Nature, p. 1-5, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 5 maio 2023.

Cite-nos

SANTOS, Fábio. DNA antigo humano é extraído de pingente de dente de veado de 20.000 anos. Ciência Mundo, maio 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.


Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.