As borboletas Vanessa cardui, popularmente conhecidas como borboletas bela-dama, são conhecidas por sua impressionante migração anual de cerca de 15.000 quilômetros da Europa para a África.
No entanto, ninguém sabia em que local exato da África essas borboletas passavam o inverno e se reproduziam.
Agora, um estudo recente publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences finalmente revelou os locais de inverno e reprodução dessas borboletas (TALAVERA, 2023).
Os cientistas descobriram que, de dezembro a fevereiro, após atravessarem o deserto do Saara no outono, as borboletas bela-dama se estabelecem em savanas e planaltos em toda a África central para se reproduzirem.
À medida que a estação chuvosa traz vegetação para a região, as borboletas e suas larvas se alimentam de uma variedade de plantas até que seus locais de invernada sequem.
Em seguida, as borboletas voam de volta para a Europa.
Essa descoberta foi considerada o último pedaço do quebra-cabeça na compreensão da migração dessas borboletas, que possuem a viagem de ida e volta mais longa de qualquer borboleta conhecida.
Os cientistas previamente sabiam que as borboletas viajavam para a África, mas não sabiam exatamente onde na África elas esperavam o inverno europeu, de dezembro a fevereiro.
Os pesquisadores realizaram um amplo trabalho de campo em nove países da África subsaariana, incluindo Benin, Camarões e Quênia, durante os meses de dezembro e janeiro, entre 2017 e 2020.
Eles encontraram mais de 2.700 larvas e quase 2.000 borboletas adultas em diferentes regiões da África, desde a Costa do Marfim até o Quênia e Etiópia.
As observações de campo sugerem que as borboletas bela-dama se reproduzem em savanas e planaltos levemente úmidos da África central.
O clima quente na região pode acelerar a reprodução dessas borboletas em comparação com algumas partes da Europa, resultando em três a cinco gerações nascendo na África subsaariana antes de as borboletas adultas sobreviventes voarem de volta para o norte em fevereiro.
Essa descoberta tem implicações significativas para a compreensão da biologia e ecologia dessas borboletas, bem como para o estudo de outras espécies de insetos migratórios.
Além disso, pode ajudar a explicar os fenômenos de explosão populacional ocasionalmente observados nas populações de bela-dama, com anos em que há até 100 vezes mais borboletas do que em outros anos.
Estudos anteriores já haviam associado esse fenômeno à pluviosidade na África subsaariana, e agora os cientistas podem investigar mais a fundo as relações entre a reprodução e migração das borboletas Vanessa cardui e os padrões climáticos na África.
A descoberta dos locais de inverno e reprodução das borboletas bela-dama na África foi possível graças a uma combinação de técnicas de campo e análises genéticas.
Os cientistas coletaram dados sobre a presença de borboletas adultas e larvas em diferentes regiões da África subsaariana, além de coletar amostras de DNA para identificar a origem das borboletas migratórias.
Essas informações foram então comparadas com dados meteorológicos e de vegetação para entender os padrões de reprodução e migração dessas borboletas.
Os resultados desse estudo têm implicações importantes para a conservação dessas borboletas e para a compreensão dos processos migratórios em insetos.
A identificação dos locais de reprodução e invernada das borboletas bela-dama na África pode auxiliar na proteção dessas áreas, que são essenciais para a sobrevivência dessa espécie.
Além disso, a compreensão dos padrões migratórios dessas borboletas pode ter aplicações em estudos de conservação de outras espécies de insetos migratórios, bem como na compreensão de processos ecológicos e evolutivos.
Os pesquisadores destacam que ainda há muito a aprender sobre a biologia e ecologia das borboletas bela-dama, e que estudos futuros podem se aprofundar em outros aspectos dessa incrível migração, como os mecanismos de orientação e navegação utilizados pelas borboletas durante suas viagens.
Além disso, mais pesquisas podem ser realizadas para entender como as mudanças climáticas e a degradação do habitat podem afetar a reprodução e migração dessas borboletas, bem como outras espécies de insetos migratórios.
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Referências
TALAVERA, Gerard et al. The Afrotropical breeding grounds of the Palearctic-African migratory painted lady butterflies (Vanessa cardui). Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 120, n. 16, p. e2218280120, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 12 abr 2023.
Notícias
The last leg of the longest butterfly migration has now been identified. Science News, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 12 abr 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Cientistas descobrem os locais de inverno e reprodução das borboletas bela-dama na África. Ciência Mundo, abr 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.