Recentemente, pesquisadores descobriram que um dos modelos de contagem do tempo utilizado pelos maias e olmecas — duas culturas fascinantes do mundo antigo — pode datar de 1100 a.C., séculos antes do que se imaginava (ŠPRAJC, 2023).
O calendário de 260 dias, conhecido como cholq’ij, era usado na região maia do México e da América Central para a tomada de decisões importantes relacionadas à agricultura, religião, política e outros aspectos da vida maia.
A contagem era feita através de combinações de 13 números e 20 símbolos, que correspondiam ao alinhamento dos astros em relação a algumas edificações da época e marcos naturais.
Vale lembrar que esses povos também tinham um calendário correspondente ao ciclo solar de 365 dias, chamado haab, muito parecido com o nosso calendário moderno.
Antes do novo estudo, a evidência mais antiga do calendário de 260 dias era uma pintura de mural com um pedaço de script hieroglífico encontrado em San Bartolo, Guatemala, datado de 300 a.C.
No entanto, esta evidência era limitada, já que os maias frequentemente usavam materiais perecíveis para fazer seus registros, que se perderam ao longo do tempo.
Para encontrar mais evidências, os pesquisadores usaram os dados de outro estudo que utilizou uma técnica de radar por mapeamento a laser conhecida como LIDAR (Laser Imaging, Detection, and Ranging) para escanear dois complexos cerimoniais conhecidos como Aguada Fénix e La Carmelita (INOMATA, 2020).
Essa técnica revelou estruturas antigas, com alinhamentos cósmicos, escondidas sob uma densa vegetação.
Eles analisaram 415 complexos para ver como eles se alinhavam com o nascer e o pôr do sol, a lua, Vênus e outros corpos celestes.
A maioria dos complexos mostrou um alinhamento leste-oeste e quase 90% deles apresentavam pontos arquitetônicos que se alinhavam com o nascer do sol em datas específicas.
Para a surpresa dos pesquisadores, a maioria dessas datas caía entre 11 de fevereiro e 29 de outubro, que têm 260 dias entre eles.
Como esses complexos datam de cerca de 1100 a.C., temos uma evidência de que o calendário de 260 dias é pelo menos tão antigo quanto essa era.
O estudo também descobriu que alguns monumentos apontavam para nasceres do sol com intervalos de 130 dias, enquanto outros apontavam para nasceres do sol separados por múltiplos de 13 ou 20 dias, refletindo o sistema de notação do calendário.
Além disso, a orientação de alguns complexos correspondia aos ciclos de Vênus e da Lua, que estão associados à estação das chuvas e ao cultivo de milho.
De acordo com os pesquisadores, o calendário de 260 dias pode ter sido útil para indicar quando certos recursos estariam mais abundantes, especialmente o milho, um alimento básico da cultura maia e moderna da Mesoamérica.
Esse calendário também pode ter sido associado à gravidez humana, já que o período de 260 dias é próximo ao tempo de gestação humano médio, o que sugere uma conexão entre a contagem do tempo e a fertilidade.
Um aspecto interessante do sistema numérico utilizado pelos maias é que ele não é decimal, mas sim vigesimal, ou seja, eles tinham símbolos para algarismos até vinte.
Isso significa que, ao invés de contar em dezenas, como fazemos, eles contavam em vintenas.
Isso é evidenciado pela forma como o calendário de 260 dias é dividido em períodos de 20 dias, que são chamados de “uinals“, e períodos de 360 dias, que são chamados de “tuns“.
Embora o calendário maia tenha sido desenvolvido há muitos séculos atrás, ele ainda é objeto de estudo e fascínio nos dias de hoje.
Muitas pessoas acreditam que os maias tinham conhecimentos avançados de astronomia e matemática, e que seu calendário é um exemplo disso.
No entanto, muitas das interpretações modernas do calendário maia são baseadas em conjecturas e suposições, já que grande parte do conhecimento original dos maias foi perdido ao longo dos séculos.
Apesar disso, o calendário maia continua a ser um importante legado cultural e histórico da civilização maia.
Ele oferece uma visão fascinante da forma como os maias mediam o tempo e organizavam suas vidas, além de nos ajudar a compreender melhor as crenças, valores e conhecimentos dessa antiga civilização.
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Referências
INOMATA, Takeshi et al. Monumental architecture at Aguada Fénix and the rise of Maya civilization. Nature, v. 582, n. 7813, p. 530-533, 2020. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 mar 2023.
ŠPRAJC, Ivan; INOMATA, Takeshi; AVENI, Anthony F. Origins of Mesoamerican astronomy and calendar: Evidence from the Olmec and Maya regions. Science Advances, v. 9, n. 1, p. eabq7675, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 mar 2023.
Notícias
Maya calendar may be more than 3000 years old, laser mapping reveals. Science, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 10 mar 2023.
Cite-nos
SANTOS, Fábio. Calendário maia pode ter mais de 3.000 anos, revela mapeamento a laser. Ciência Mundo, mar 2023. Disponível em: . Acesso em: 05 maio 2024.