Este é um avanço importante na luta contra o câncer, pois a detecção precoce é crucial para o sucesso do tratamento da doença. A capacidade das formigas de detectar o câncer na urina pode ser uma ferramenta valiosa para médicos e pacientes, pois pode ser mais precisa e acessível do que outros métodos de detecção.
Segundo o Dr. Baptiste Piqueret, esta pesquisa começou no ano passado, quando ele e sua equipe descobriram que as formigas eram capazes de detectar cheiros muito fracos e subtis. Os pesquisadores decidiram então investigar se as formigas conseguiriam detectar o câncer na urina, pois os tumores liberam compostos químicos distintos, que são excretados pelo “hospedeiro”.
Eles então treinaram os insetos para associar o cheiro da urina de pacientes com câncer a uma recompensa doce. Em seguida, eles colocaram as formigas em uma tarefa de classificação, onde elas tinham que escolher entre a urina de pacientes com câncer e a urina de pacientes sem câncer.
Os resultados foram surpreendentes: as formigas conseguiram detectar o câncer na urina com uma taxa de precisão de até 85%. Além disso, as formigas foram capazes de perceber a doença em estágios iniciais, o que é crucial para o sucesso do tratamento. Este é um grande avanço em comparação com os métodos atuais de detecção, que geralmente revelam o câncer em estágios mais avançados, quando o tratamento é menos eficaz.
A capacidade das formigas de detectar o câncer na urina tem muitos potenciais benefícios para a saúde pública. Em primeiro lugar, pode ser mais acessível do que outros métodos de detecção, como exames de sangue e imagens de ressonância magnética. Além disso, esta estratégia pode ser mais precisa, pois as formigas são capazes de detectar cheiros muito fracos e subtis.
Método utilizado
Os pesquisadores usaram amostras de urina de camundongos que tinham tumores humanos crescendo dentro deles para detectar o câncer. Esta estratégia, conhecida como xenoenxerto (ou transplante de tecidos entre indivíduos de espécies diferentes) possibilita resultados mais realistas em experimentos com o câncer, em comparação com as culturas de laboratório, já que as células cancerosas se desenvolvem dentro de um organismo vivo com toda sua complexidade.
Além disso, os tumores nestes camundongos são estáveis ao longo do tempo e podem ser duplicados, tornando possível testar muitos tratamentos diferentes e encontrar o melhor para o paciente de onde o tumor foi retirado.
Os pesquisadores fizeram isso ensinando formigas individuais a classificar o cheiro da urina dos camundongos, com uma recompensa – uma solução doce. Eles colocaram a formiga em uma arena circular e realizaram três sessões de treinamento. O tempo que a formiga levou para encontrar a recompensa foi medido durante cada sessão de treinamento.
A hipótese da pesquisa era a de que as formigas conseguiriam aprender a reconhecer uma mistura de cheiros diferentes associados a uma recompensa.
Após apenas três sessões de treinamento, as formigas conseguiram diferenciar os camundongos com tumores dos sem tumores apenas cheirando suas urinas. Além disso, os pesquisadores descobriram que quanto maior o tumor, mais o cheiro da urina do camundongo se diferencia do normal.
“No ano passado, mostramos que as formigas podem cheirar o odor do câncer usando culturas de células humanas de laboratório. Agora, com este novo estudo, descobrimos que as formigas são capazes de detectar a presença de tumores humanos em um organismo vivo inteiro, teoricamente cheirando a urina do ‘pseudo paciente’, representado neste trabalho por camundongos com xenoenxerto humano com tumores”, afirmou Piqueret.
“O método é rápido, fácil e barato. Este conceito demonstra que as formigas têm potencial para serem usadas como biodetectores eficientes de câncer. O próximo passo agora é validar as habilidades das formigas usando amostras de urina humana. Isso não será difícil, pois esses insetos aprendem rápido e são fáceis de se manter”, continuou o pesquisador.
James Dobbyn, enfermeiro sênior de pesquisa do National Health Service e especialista clínico em oncologia aguda, que não participou dessa pesquisa, destacou que “embora os pacientes possam achar difícil compreender essa tecnologia, os resultados dessa pesquisa, se confirmados, poderiam ter benefícios amplos para os nossos pacientes”.
Outros pesquisadores, que não participaram deste trabalho, alertam que apesar dos resultados animadores, ainda há muito a ser feito antes que as formigas possam ser usadas como detectores de câncer em larga escala. É necessário validar as habilidades das formigas usando amostras de pacientes humanos antes que possam ser implementadas em ambientes clínicos. Além disso, é importante considerar questões éticas, como a privacidade dos pacientes, e como os resultados serão interpretados e utilizados.
Apesar dos desafios, devemos reconhecer a criatividade desta equipe de pesquisadores, que buscou uma solução simples e inovadora para um problema complexo. Graças a esta ousadia, poderemos ter um avanço significativo para medicina, na luta contra o câncer.
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Referências
PIQUERET, Baptiste et al. Ants act as olfactory bio-detectors of tumours in patient-derived xenograft mice. Proceedings of the Royal Society B, v. 290, n. 1991, p. 20221962, 2023. Disponível em: <link>. Acesso em: 5 fev 2023.
Notícias
Researchers have trained ants to detect cancer in urine. Medical News Today, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 5 fev 2023.
Scientists Discover Ants Can Sniff Out Cancer in Urine. Science Alert, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 5 fev 2023.
Cite-nos
SANTOS, Gabriel. Formigas conseguem detectar precocemente o câncer através da urina. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, fev 2023. Disponível em: . Acesso em: .
Graduado em Sistemas de Informação pela FEUC-RJ e mestre em Representação de Conhecimento e Raciocínio pela UNIRIO. Fábio é editor e fundador do portal Ciência Mundo. É dedicado à produção de conteúdos relacionados a astronomia, física, arqueologia e inteligência artificial.
