Enzimas que quebram rapidamente o plástico foram descobertas na saliva do verme de cera, uma espécie de larva de mariposa que geralmente infesta as colmeias (SANLUIS-VERDES, 2022).
Essa é a primeira enzima relatada que consegue em poucas horas, e a temperatura ambiente, consumir o polietileno, possibilitando formas econômicas de reciclagem de plásticos.
A descoberta aconteceu por acaso, depois que a pesquisadora Federica Bertocchini, do Centro de Pesquisa Biológica de Madri, limpou uma colmeia infestada e descobriu que as larvas removidas começaram a fazer buracos no saco de lixo, onde elas haviam sido depositadas.
Uma análise posterior realizada pela pesquisadora e colegas mostrou que os buracos não tinham sido causados apenas por mastigação, mas também pela saliva do inseto, que é um tipo de “vetor de enzimas degradantes” capazes de dissolver o plástico.
O polietileno corresponde a 30% de toda a produção de plástico, sendo utilizado na fabricação de sacolas e outras embalagens que representam uma parte significativa da poluição plástica em todo o mundo. As alternativas de reciclagem disponíveis para este material utilizam processos mecânicos e criam produtos de menor valor.
A decomposição do plástico através da enzima descoberta neste estudo, por outro lado, pode criar produtos químicos valiosos, além de possibilitar a criação de novos plásticos, o que diminuiria a extração do polietileno do petróleo em larga escala.
Essas enzimas podem ser facilmente sintetizadas e tem a vantagem de conseguir quebrar as cadeias poliméricas à temperatura ambiente, na água e em PH neutro.
Contudo, os pesquisadores afirmam que ainda é cedo para utilizarmos o produto em uma aplicação comercial. “Precisamos fazer muita pesquisa e desenvolver um método para usar essa nova estratégia para lidar com resíduos plásticos”, disse o coautor deste trabalho, Clemente Arias, também do centro de pesquisa espanhol.
Além das grandes usinas de reciclagem, os pesquisadores especularam sobre a possibilidade de um dia utilizarmos esta enzima em nossas casas para transformar resíduos plásticos em algo útil.
O atual estudo identificou 200 proteínas na saliva do verme da cera, das quais duas têm o efeito de decompor o plástico. As larvas do verme da cera vivem e crescem nos favos de mel das colmeias e se alimentam de cera de abelha, o que pode ser o motivo pelo qual elas evoluíram essas enzimas.
O professor Andy Pickford, diretor do Centro de Inovação Enzimática da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, disse que a descoberta das enzimas na saliva do verme da cera foi um passo importante. “Como a reação acontece dentro de algumas horas à temperatura ambiente, essa quebra enzimática pode ser um caminho para o tratamento de resíduos de polietileno”.
Outras abordagens que investigam o uso de insetos para decompor o plástico já foram apresentadas a pouco tempo. Em 2021, um estudo mostrou que bactérias encontradas no solo e no oceano estariam evoluindo para “comer plástico”. No estudo foram encontradas 30.000 enzimas diferentes capazes de degradar 10 tipos de plásticos. Outro estudo, apresentado em 2020, descobriu que um inseto encontrado em um depósito de lixo no Japão produzia uma super enzima, capaz de quebrar rapidamente garrafas PET.
Para Bertocchini, seja qual for a solução, precisamos agir rápido, já que milhões de toneladas de plástico são despejadas todos os anos, e este tipo de poluição já está em todos os lugares do planeta, desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos. Reduzir o descarte de plásticos na natureza é vital, e para isso precisamos desenvolver um método eficiente de reciclagem para evitar a produção de novos plásticos.
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Referências
SANLUIS-VERDES, Anahi et al. Wax worm saliva and the enzymes therein are the key to polyethylene degradation by Galleria mellonella. bioRxiv, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 29 maio 2022.
Notícias
Wax worm saliva rapidly breaks down plastic bags, scientists discover. The Guardian, 2022. Disponível em: <link>. Acesso em: 5 out. 2022.
Cite-nos
SANTOS, Saliva do verme da cera decompõe plásticos rapidamente, revela um estudo. Ciência Mundo, Rio de Janeiro, out 2022. Disponível em: . Acesso em: .